Como o pó, e como o ar. Craseando tudo, confundindo as entranhas...

terça-feira, 20 de março de 2012

Terça de Nada

  Acordo, olho pro teto, devo ter olhado se acordei quando estava de barriga pra cima, mesmo que eu não me lembre em algum momento eu devo ter olhado. Comer, arrumar, sair e ir estudar, mesmo que seja por menos de duas horas e já acreditar que isso é muito para não dizer que não faço mais nada da vida. Mas já me acompanha, desde que ponho os pés no chão a procura dos chinelos. O vazio de um dia que será completamente vazio, não importa a convicção, ou o tamanho desejo de se divertir, não haverá nada, e talvez nem mesmo o sono, para que isso abandone minha cabeça e meu corpo.
  Fome, sono, sede. Essas cousas naturais que nós não podemos simplesmente impedir de sentir. Mas e aonde ficam os outros sentimentos e sensações que não nos fazem zumbis? Nada, é isso que sinto quando penso em sentir algo. Nem dor, nem lágrimas, posso até me forçar  alembrar dos fatos recentes para que algo aconteça e me mostre que ainda sou eu e que não desliguei o botão "sentir mais do que sobreviver". 
  Posso até olhar para caras e meninas, mas nada. Beleza e atração nunca foram tão chatas, porque tudo é um saco. Nada me faz sentir, se eu furar a mim mesma, não sentirei mais nada do que dor pela carne, sem horror e pavor pelo sangue que poderia jorrar. Não existe nada para falar, as conversas não tem nem início e por mais que me esforce para dar continuidade ao assunto, algo em mim esta morto, e eu simplesmente concordo ou faço barulhos que me tornam apenas um zumbi.
  Não me sinto bem, e não me sinto mal. Como a folha branca de papel sulfite só que sem nenhuma expectativa do que irá acontecer, como se ela fosse fabricada e soubesse que sua vida será eternamente vazia e branca, e esta fosse a única expectativa dela.
  Indiferente, sem graça. Chata sem gostar de ser, olhar pro corpo e achar que ele é feio, mas que isso não importa porque nada vai valer achá-lo feio se os ossos simplesmente não se reposicionarão e se de fato não é isso que quero. Só que nada me segura por um segundo a mais, simplesmente some, vai embora, e me deixa novamente parada, olhando para um buraco que não transmite nada.
  Sem paranoias, sem fantasias ou histórias, simplesmente morta, prestes a sair fazendo um barulho bizarro e comendo cérebros ou o que se mover.

  Nestes dias em que a gente se sente tão humano quanto o teto em que olhamos em alguma parte da noite. Frios, indiferentes, sem nada para nada.

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