É assim que sinto na maior parte das vezes, como se eu comesse demais os sentimentos, as sensações e tudo o que ocorre, e quanto eu mais como mais sai algo que não presta, e aquilo que eu como eu comi, e some, aquilo que não presta some quando você decide apagar. Mas decidir apagar é a parte mais difícil de tudo, porque mesmo que aquilo não preste e seja toda a sujeira que resultou de você, é ainda você, é ainda real, não sumiu como a comida, como o sabor após algum tempo.
E assim fico na maior parte do tempo, hesitando em apagar tudo aquilo que resulta de mim, porque se eu apagar aquilo, não há garantias de que eu me lembre de como eu era antes do bom proveito e da sujeira. Porque, quando se pensa em apagar a sujeira é porque algo te prende a ela, simplesmente é o fato de que não há mais nada de você a não ser aquilo que restou.
E assim, entre quatro paredes, entre mil pessoas, ou ao ar livre, você se torna apenas a sua sujeira. E a sua sujeira, a minha, é a um espelho sujo constante preso a você, e a única coisa que você passa a enxergar é você distorcido e sujo, não tem como amar aquilo, não tem como amar você.
Mas, esses sentimentos são tão egoístas, eu sou, que mesmo me vendo distorcida e suja, eu temo por quebrar o espelho e não poder ver mais nada e não saber quem eu sou, ou se isso importa.