Como o pó, e como o ar. Craseando tudo, confundindo as entranhas...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Sobrou de Mim o Egoísmo

  Quando se tem a sua frente sua comida favorita, no prato mais bonito, você não resiste em não se deliciar e sim comer tudo o mais rápido que sua boca puder, para simplesmente massacrar tudo aquilo e digerir, para mais tarde sair tudo o que não prestou daquilo, e quanto mais você come, mais sai.
  É assim que sinto na maior parte das vezes, como se eu comesse demais os sentimentos, as sensações e tudo o que ocorre, e quanto eu mais como mais sai algo que não presta, e aquilo que eu como eu comi, e some, aquilo que não presta some quando você decide apagar. Mas decidir apagar é a parte mais difícil de tudo, porque mesmo que aquilo não preste e seja toda a sujeira que resultou de você, é ainda você, é ainda real, não sumiu como a comida, como o sabor após algum tempo.
  E assim fico na maior parte do tempo, hesitando em apagar tudo aquilo que resulta de mim, porque se eu apagar aquilo, não há garantias de que eu me lembre de como eu era antes do bom proveito e da sujeira. Porque, quando se pensa em apagar a sujeira é porque algo te prende a ela, simplesmente é o fato de que não há mais nada de você a não ser aquilo que restou.
  E assim, entre quatro paredes, entre mil pessoas, ou ao ar livre, você se torna apenas a sua sujeira. E a sua sujeira, a minha, é a um espelho sujo constante preso a você, e a única coisa que você passa a enxergar é você distorcido e sujo, não tem como amar aquilo, não tem como amar você.
  Mas, esses sentimentos são tão egoístas, eu sou, que mesmo me vendo distorcida e suja, eu temo por quebrar o espelho e não poder ver mais nada e não saber quem eu sou, ou se isso importa.

terça-feira, 29 de maio de 2012

  Escuro lá fora, aqui dentro claro, com a luz elétrica a iluminar minha cabeça tonta de sono e vazia por não ter nada melhor para preenchê-la.
  O coração meio apertado, meio solto pro mundo, mas as mãos esquecidas em todos os cantos e os desejos ostentados com muito cuidado, para que eu mesma me esqueça deles. Um vazio por todos os corredores da casa, muitos fantasmas de mim mesma lamuriando ou rindo nos sofás, assistindo ao programa televiso comediante inútil.
  O corpo, que corpo?, já me parece apenas um nada, um nada que sustenta minhas emoções tão fortes e tão distintas de mim. Os olhos na cara, a cara lavada de nada ou de simplesmente mais lágrimas por ausência de ousadia da boca, esta, calada e contraída numa expressão fechada, com medo de transparecer e de fraquejar, perecendo e não curando-se.
  As roupas, que nem preciso, descansando no corpo, desarrumadas e mal colocadas.
  A cabeça, repousando no pescoço, mas almejando estar no topo da Lua, somente na Lua.

Puro Medo

  Boca extremamente seca.
  Pulsações fortes, batidas doloridas provindas do fundo do peito.
  Um olhar, muito rápido.
  Mas depois de um instante, o medo. Medo de sofrer novamente a certeza de que o fato é que irá sofrer de qualquer jeito, porque assim já se determina. Um autocontrole, uma autoproteção para que se sofra antes para não se sofrer depois.
  É estranho, sim, realmente estranho e egoísta esconder um sentimento por medo de seus efeitos. Porém é um meio de se autopreservação, para que o corpo não sucumba e que a cabeça não fraqueje. 
  Mas o que fazer, se já se tem tanta certeza assim de que haverá dor? Simplesmente como um bicho menor e extremamente indefeso, que não sabe atacar, vou contornando os sentimentos que me fazem sentirem diferente do que o normal, porque tenho medo de perder o normal e ficar sem nada. 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Dia, Dia, Dia

  Sem muitas mentiras ou ladainha, é isso aqui, e pronto.
  Como se uma pilha de papéis estivesse sendo jogada na mesa, bem perto de minhas mãos fracas do ócio e do nada, a ponto de a pilha ser jogada em cima delas, para que elas se animem ou algo aconteça além do nada.
  Mais papéis e mais ruas, mais passagens e mais pessoas olhando pra você como se houvesse algo que esta fora do comum, do aceitável. Roupas? Tanto faz, com ou sem elas eu me sinto do mesmo jeito, triste e sem nada para colocar em nenhum bolso ou pacote.
  Mias vidas, e mais vidas. Ruas abarrotadas de pessoas, pessoas abastecidas de produtos, lojas com produtos, capitalismo emocionante, animal!, mais produtos e mais pessoas, mais vendas e mais propagandas, maior aceitação.
  Tanta coisa para que eu não sinta nada, ou que apenas meus olhos ardam novamente, para que lágrimas rolem e cessem, para depois novamente rolar. Como uma cadeia, onde tudo se resume a viver, mesmo que isso seja a última coisa da lista de nada que eu quero.
  Viajando nessa droga de manhã ensolada e bonita, ouvindo música e mesmo assim, mesmo assim!, conseguindo ouvir a droga da conversa da mulher. Viajando para a sobrevivência e com um buraco enorme no peito, mas simplesmente ostentando um coração, que como todos outros bate, na necessidade de apenas bater, por só isso mesmo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

  Sufocando, desperdiçando tempo, enquanto o ralo suga as lágrimas que caem sem mais motivos, apenas por conforto. A vida escorrendo, para baixo do chão, para junto das desilusões que provoco, por motivos desconhecidos de minha doença imaginária.   Quando se está tanto tempo parado, a vida não se manifesta, nada se manifesta há não ser o vazio, comprometendo as artérias, o coração, as vias respiratórias.   Agora, estou deixando que a vida se vá, levando tudo que tenho, deixando o ralo sugar as lágrimas que eu não tenho coragem de limpar, e de dispensar.  Sozinha, e sem muitos motivos para querer não estar, só depende de como é a sua alegria...