Como o pó, e como o ar. Craseando tudo, confundindo as entranhas...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Mil Coisas Me Fascinam, Mil Coisas Não Me Levam A Nada

  Os começos são extremamente difíceis. Depois dizem que os meios são apenas os meios, e não importunam muito. O fim, ele sim deve ser cuidadosamente trabalhado, para que se chegue a uma conclusão ou em um desfecho magnífico.

  Duas da tarde, um sol extremamente infernal, se existe um Inferno quente, provavelmente deve ser como este em que habito. Cá estou, sentado numa cadeira, escrevendo relatórios sobre o maldito divórcio que enfim, terminou. Olho pela janela, e vejo mil pessoas, e mil coisas. Se um otimista olhasse pela minha janela, veria mil interesses, mil oportunidades e uma paisagem totalmente deslumbrante. Eu, vejo apenas mil coisas sem significado e sem nenhum, interesse, que só passam a me interessar a partir do momento em que entram nesta sala e me tragam trabalho, que gera remuneração, que me gera conforto.
  Não sou assim, fiquei assim. Houve uma época em que cheguei nas ruas desta cidade e achei mil coisas maravilhosas, mil pessoas maravilhosas e deslumbrantes em roupas e com chapéus e óculos totalmente novos para mim. Mil carros e mil coisas para conhecer. Neste dia, achei que precisaria de uma vida toda, e com sorte, conseguiria olhar tudo o que tinha de diferente neste lugar e conhecer todas as coisas diferentes que habitam este lugar.
  Por muito tempo foi assim, eu acreditando que obteria conhecimento todos os dias, infinitamente, e que isso seria a coisa mais maravilhosa do mundo. E por algum tempo assim foi. Conheci lugares, comidas. bebidas, pessoas e gestos. E a cada vez mais, eu me lambuzava e queria mais me lambuzar.
  Mas de repente tudo parou, quando eu comecei a investigar mais fundo sobre tudo e ao mesmo tempo. Minha cabeça não se cansou, mas ela virou-se para o espelho e me vi. Há muito tempo que eu não olhava para um espelho sem a ideia de checar a aparência. Mas por algum motivo ou por simplesmente nada, eu me virei naquele dia de trabalho para o espelho perto da porta de minha casa. 
  Estagnei diante daquilo. Era eu? Aquelas eram minhas roupas agora? Eu sorria assim? Quem realmente era aquele no espelho? Me lembrei da primeira vez em que vim a esta cidade, tão diferente era. Minha aparência era única, era apagada perto de todas aquelas pessoas; meus gestos eram rústicos. Eu era um ser diferente de tudo aquilo que via. Tudo era diferente do que via.
  Mas depois de tanto tempo aqui, conhecendo tanta coisa, hoje eu percebo que todos somos iguais, e o exacerbo de estilo não significa nada mais do que um produto, um produto a qual se dedica muito tempo e algum esforço.
  Neste dia diante do espelho me frustei, porque entendi que quanto mais quisesse conhecer, menos conheceria, porque jamais tentei me conhecer e acreditei que aquilo que eu era seria aquilo que eu poderia e deveria me orgulhar. 
  Hoje, meio tonto de tanta coisa diferente mas sem sentido, passos os dias quentes e horrorosos nesta sala, e quando olho pela janela vejo mil coisas, que de tanta variedade me cansa por não levar em nada que dure uma vida.

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