Como o pó, e como o ar. Craseando tudo, confundindo as entranhas...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Sobrou de Mim o Egoísmo

  Quando se tem a sua frente sua comida favorita, no prato mais bonito, você não resiste em não se deliciar e sim comer tudo o mais rápido que sua boca puder, para simplesmente massacrar tudo aquilo e digerir, para mais tarde sair tudo o que não prestou daquilo, e quanto mais você come, mais sai.
  É assim que sinto na maior parte das vezes, como se eu comesse demais os sentimentos, as sensações e tudo o que ocorre, e quanto eu mais como mais sai algo que não presta, e aquilo que eu como eu comi, e some, aquilo que não presta some quando você decide apagar. Mas decidir apagar é a parte mais difícil de tudo, porque mesmo que aquilo não preste e seja toda a sujeira que resultou de você, é ainda você, é ainda real, não sumiu como a comida, como o sabor após algum tempo.
  E assim fico na maior parte do tempo, hesitando em apagar tudo aquilo que resulta de mim, porque se eu apagar aquilo, não há garantias de que eu me lembre de como eu era antes do bom proveito e da sujeira. Porque, quando se pensa em apagar a sujeira é porque algo te prende a ela, simplesmente é o fato de que não há mais nada de você a não ser aquilo que restou.
  E assim, entre quatro paredes, entre mil pessoas, ou ao ar livre, você se torna apenas a sua sujeira. E a sua sujeira, a minha, é a um espelho sujo constante preso a você, e a única coisa que você passa a enxergar é você distorcido e sujo, não tem como amar aquilo, não tem como amar você.
  Mas, esses sentimentos são tão egoístas, eu sou, que mesmo me vendo distorcida e suja, eu temo por quebrar o espelho e não poder ver mais nada e não saber quem eu sou, ou se isso importa.

terça-feira, 29 de maio de 2012

  Escuro lá fora, aqui dentro claro, com a luz elétrica a iluminar minha cabeça tonta de sono e vazia por não ter nada melhor para preenchê-la.
  O coração meio apertado, meio solto pro mundo, mas as mãos esquecidas em todos os cantos e os desejos ostentados com muito cuidado, para que eu mesma me esqueça deles. Um vazio por todos os corredores da casa, muitos fantasmas de mim mesma lamuriando ou rindo nos sofás, assistindo ao programa televiso comediante inútil.
  O corpo, que corpo?, já me parece apenas um nada, um nada que sustenta minhas emoções tão fortes e tão distintas de mim. Os olhos na cara, a cara lavada de nada ou de simplesmente mais lágrimas por ausência de ousadia da boca, esta, calada e contraída numa expressão fechada, com medo de transparecer e de fraquejar, perecendo e não curando-se.
  As roupas, que nem preciso, descansando no corpo, desarrumadas e mal colocadas.
  A cabeça, repousando no pescoço, mas almejando estar no topo da Lua, somente na Lua.

Puro Medo

  Boca extremamente seca.
  Pulsações fortes, batidas doloridas provindas do fundo do peito.
  Um olhar, muito rápido.
  Mas depois de um instante, o medo. Medo de sofrer novamente a certeza de que o fato é que irá sofrer de qualquer jeito, porque assim já se determina. Um autocontrole, uma autoproteção para que se sofra antes para não se sofrer depois.
  É estranho, sim, realmente estranho e egoísta esconder um sentimento por medo de seus efeitos. Porém é um meio de se autopreservação, para que o corpo não sucumba e que a cabeça não fraqueje. 
  Mas o que fazer, se já se tem tanta certeza assim de que haverá dor? Simplesmente como um bicho menor e extremamente indefeso, que não sabe atacar, vou contornando os sentimentos que me fazem sentirem diferente do que o normal, porque tenho medo de perder o normal e ficar sem nada. 

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Dia, Dia, Dia

  Sem muitas mentiras ou ladainha, é isso aqui, e pronto.
  Como se uma pilha de papéis estivesse sendo jogada na mesa, bem perto de minhas mãos fracas do ócio e do nada, a ponto de a pilha ser jogada em cima delas, para que elas se animem ou algo aconteça além do nada.
  Mais papéis e mais ruas, mais passagens e mais pessoas olhando pra você como se houvesse algo que esta fora do comum, do aceitável. Roupas? Tanto faz, com ou sem elas eu me sinto do mesmo jeito, triste e sem nada para colocar em nenhum bolso ou pacote.
  Mias vidas, e mais vidas. Ruas abarrotadas de pessoas, pessoas abastecidas de produtos, lojas com produtos, capitalismo emocionante, animal!, mais produtos e mais pessoas, mais vendas e mais propagandas, maior aceitação.
  Tanta coisa para que eu não sinta nada, ou que apenas meus olhos ardam novamente, para que lágrimas rolem e cessem, para depois novamente rolar. Como uma cadeia, onde tudo se resume a viver, mesmo que isso seja a última coisa da lista de nada que eu quero.
  Viajando nessa droga de manhã ensolada e bonita, ouvindo música e mesmo assim, mesmo assim!, conseguindo ouvir a droga da conversa da mulher. Viajando para a sobrevivência e com um buraco enorme no peito, mas simplesmente ostentando um coração, que como todos outros bate, na necessidade de apenas bater, por só isso mesmo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

  Sufocando, desperdiçando tempo, enquanto o ralo suga as lágrimas que caem sem mais motivos, apenas por conforto. A vida escorrendo, para baixo do chão, para junto das desilusões que provoco, por motivos desconhecidos de minha doença imaginária.   Quando se está tanto tempo parado, a vida não se manifesta, nada se manifesta há não ser o vazio, comprometendo as artérias, o coração, as vias respiratórias.   Agora, estou deixando que a vida se vá, levando tudo que tenho, deixando o ralo sugar as lágrimas que eu não tenho coragem de limpar, e de dispensar.  Sozinha, e sem muitos motivos para querer não estar, só depende de como é a sua alegria...


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Suor

  Suor escorrendo em abundância pela face, uma mochila extremamente pesada. Momento esmagadoramente difícil, tenho eu mil motivos para reclamar da vida. Mas, que vida? Estou viva, sei muito bem, mas que vida é a que eu tenho para poder reclamar? Vida é o ato de viver? Mas viver é a mesma coisa de ser um nada, porque viver só não basta.
  Passo a mão pela milésima vez na testa, que bosta de calor! Mas eu não rogo praga pro tempo não, eu não tenho esse direito, porque o respeito deve ser mantido, principalmente o respeito pelas condições que me proporcionaram a viver, e vivendo eu posso assim fazer uma existência.
  Existência não é você nascer agora e morrer daqui setenta anos (para um chute alto de expectativa de vida, claro, hoje bem que se pode, tem mais química do que sentimentos), isso é vida, limitada, patética, sem graça e  muito, mas muito mesmo, incômoda. Penso eu, que hoje há milhares, trilhares e tamanho o número que eu não quero saber, de pessoas vivendo. Logo, penso eu, que se estas tantas pessoas fizessem algo por elas e pelas outras eu viveria num paraíso.
  Mesmo com esse sol me ferrando a pele, eu estou bem, porque estou sozinha, mas quando olho na rua, eu me sinto mal, porque nem vejo mais nada que ali respire e me dá uma inspiração para sorrir, mesmo sabendo que as 90% das pessoas que olharem pra mim me acharão besta e louca.
  Alguns creem que há um lugar esmagadoramente ruim para se viver, e que esta em outro plano universal, outro espaço. eu lhes digo, se há lugar pior do que este que sujamos, infectamos e adoentamos, então meu querido, acho que estamos perdidos.
  Mais suor, que maravilha, mais suor, canso de ficar limpando, que soa! Nem ligo, isso não vai mudar nada. Mas nós podemos mudar tudo!
  Eu continuo andando, me perdendo no asfalto, e tentando com as minhas forças imaginar que aquilo um dia esteve sadio, e sonhando com um futuro aonde eu possa sorrir sem medo de ser repreendida ou julgada, um futuro aonde eu possa andar descalça sem medo de ficar doente, um futuro aonde pessoas serão todas bonitas e não haverá mais distinção por grupo, um futuro aonde as pessoas se abraçarão porque gostam-se mutuamente e não por cordialidade. Um futuro aonde tudo tenha por base o respeito a uma existência digna de seres capazes que somos.

domingo, 22 de abril de 2012

  Quando a chuva bate em meu rosto, eu peço desesperadamente para que eu possa acreditar, peço para que eu sinta algo mais do que a chuva molhada no meu rosto, sinta algo além daquelas gotas que em vezes vem sozinhas, ou não.
  Eu poderia andar na rua por todo este tempo, trombando no passado, e olhando friamente e depois ele me atacando com toda sua força. E depois caminhando de novo, já reconstruída, a chuva, com a roupa encharcada, com a alma sendo lavada, e com o coração duro.
  É um absurdo que eu não possa acreditar nisto tudo, egoísmo? Ou auto-proteção? O que realmente estou fazendo sem perceber, será que é isso que vai mudar?
  Eu tenho muito pouco de vida, e quero vivê-la a tanto, que eu quero envelhecer, envelhecer rápido demais, para viver rápido demais, e não ter tempo de pensar, que eu realmente começo a me arrepender do que eu pedi em momentos de desespero.

  Queria sentir algo mais, do que essa dor rotineira, e do que a chuva molhando meu rosto, que esboça um sorriso que nem sabe o que quer dizer.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Pedro Da Boca Linda

  Pedro Júlio De Lima.
  Jovem, de médio porte, bonito até. Estudioso no que lhe interessa, interesseiro por natureza. Uma boa pessoa, um bom filho quando não esta bebendo ou conversando sobre o que deve ser sua vida. Deve ter tido boas namoradas, pois é bem humorado.
  Morto.
  Melhor dito, assassinado. Por quem?
  Por mim, Mário José Cazamir. Um grande assassino na minha visão.
  Matei Pedro ontem, quando ia apenas (juro pela minha mãe que nem sabe onde está agora) comer um bolo e tomar café com leite. Vi Pedro sentado a uma mesinha no canto do estabelecimento, na janela. Gosto daquele lugar, mas não senti raiva porque ele estava lá. Apenas olhei, e imediatamente naquela boca perfeita, encontrei um desejo, de não só beijá-la, mas de tê-la para mim.
  Imediatamente, recorri as técnicas mais apropriadas naquele momento, me fiz de simples, e sente em um lugar onde pudesse ver aquele jovem sem ele saber que eu o via. Pedi bolo de chocolate com cobertura de limão e café com leite. Enquanto comia, observei seus gestos, e tentei entender algo do que ele dizia em constantes vezes que atendeu ao telefone. 
  Após uma meia hora, deduzi que ele daqui a algum instante sairia, e eu perderia aquela boca. Chamei a garçonete e lhe disse que deveria entregar uma torta de chocolate com morango, a especial da casa, àquele jovem ali. E entregue-lhe um bilhete que dizia assim "coma, que eu já venho lhe sorrir". Não tive medo de o jovem se constranger ou se assustar, eu sabia bem observar, e vi naqueles gestos uma mania triste de viver aventuras.
  Enquanto o bilhete era levado, a torta provavelmente comida, fui ao banheiro, e me ajeitei. Um visual estudante descolada, mas sem exacerbo, apenas muita naturalidade.
  Sai do banheiro e em passos indecisos fui até a mesa do jovem, e depois disso iniciou-se aquele jogo que já conhecemos decorado e passado pela mídia, que muitas vezes não dá certo, mas com muito esforço, se consegue.
  Dali duas horas, estávamos em meu apartamento, fazendo aquelas coisas que jovens fazem. Até que eu me cansei de beijar aquela boca, ela era linda e perfeita, mas ela não me beijava como eu queria que me beijasse, então passou ao desejo de tê-la, simplesmente tê-la. 
  Assim, disse que ia ao banheiro. Peguei um peso de papel sobre a mesa do computador, algo maciço que provavelmente o desacordaria. Voltei a sala, e enquanto ele me apalpava, com a força que pude taque-lhe o objeto na nuca, e ele tombou, meio zonzo, mas tombou. Aproveitei e peguei a vassoura e lhe dei mais um apancada a fim de que ele não atrapalhasse meu serviço.
  Quando Pedro acordou, assim o descobri, após mexer em sua carteira enquanto o esperava. Precisava lhe dar uma satisfação sobre o que iria fazer. Quando ele acordou, meio assustado, lhe disse.
-Eu amo a tua boca. Não me pergunte como ou o porquê, mas apenas sei que a amo. Preciso tê-la, mas me entenda, não preciso de você, e acredito que uma pessoa a mais, uma a menos, não faz diferença não é mesmo? E também odeio pegar ônibus cheios quando volto do trabalho, certamento menos um me fará diferença.
  Com isso, lhe injetei alguma droga que algum amigo meu me vendeu algum dia, e ele desacordou, dormiu, e a partir daquele momento eu sabia que ela não sentiria nada. Com algumas técnicas que meu pai, marceneiro me ensinou, e claro com muita dificuldade, pois vertia sangue a todo momento, lhe tirei a boca.
  Pedro ficou feio, realmente feio. E pelo o que pude conhecer dele, ele realmente detestaria ficar sem boca ou ter uma boca que não fosse aquela. Então, o matei com a pistola que herdei de papai.


  Hoje, Pedro deve estar digerido por algum cachorro da rua. Meu vizinho tem um moedor potentíssimo de carne, e o pedi emprestado, para moer Pedro. Os ossos que não foram moídos, eu limpei e guardei para meu próximo enfeite entalhado na parede do quarto.
  Matei Pedro Júlio De Lima, mas lhe digo que sei que ele ficou feliz, pois sua boca é vista todo dia, e muito adorada.

Não É Tão Assim Interessante

  Não é tão interessante assim a tua loucura.
  Loucuras interessantes são aquelas que tem algum propósito ou ideal que faça valer a pena dispensar alguns minutos de sua vida para refletir sobre. A tua, infelizmente não é. É cansativa, atrapalhada e exacerbada. Muitas vezes não leva a nada que não seja o teu bem estar, sempre como você o vê. É chata esta tua loucura, gritante e oleosa.
  Não sacode poeira, não levanta espírito que não seja a nossa conjunta e dolorida dor de cabeça.
  Todos temos potencial para entrar em um túnel psicológico e nos perder por lá, você também, mas você saiu do túnel perdido, mas perdido porque assim você se garante melhor. Não é tão confuso assim, você viver neste teu extremo de mil coisas girando em torno de você vinte e quatro horas. Não pensa que estas coisas também, pela ordem natural de tudo, deve ter mais outras coisas girando em torno delas, e assim por diante?
  Não estamos nessa, porque nós temos um propósito ou criamos conceitos que são aproveitados durante a nossa loucura. Você, não.
  Esta tua loucura de carência é vergonhosa, não que eu me importe com isso(acredito que a vergonha é a melhor terapia para qualquer um se sentir melhor e ter orgulho de si mesmo), mas não vê que isto não leva a nada? Comer, não é produtivo. Se você escrevesse, compusesse, ou criasse qualquer coisas seria mais produtivo do que ficar participando da tua vida, que é só tua, e só pode ser tua.
  A tua loucura é egoísta, porque você é o único boneco que constantemente se mexe. Os outros são aqueles que aparecessem na sua vez de aparecer, e depois são deixados de lado para esfriar, até que novamente se façam necessários.
  Sinto em lhe dizer, mas esta loucura que você me faz crer para mim é tão esquisita, mas tão esquisita!, que eu sento e penso, e a única coisa que vejo é você.

Mil Coisas Me Fascinam, Mil Coisas Não Me Levam A Nada

  Os começos são extremamente difíceis. Depois dizem que os meios são apenas os meios, e não importunam muito. O fim, ele sim deve ser cuidadosamente trabalhado, para que se chegue a uma conclusão ou em um desfecho magnífico.

  Duas da tarde, um sol extremamente infernal, se existe um Inferno quente, provavelmente deve ser como este em que habito. Cá estou, sentado numa cadeira, escrevendo relatórios sobre o maldito divórcio que enfim, terminou. Olho pela janela, e vejo mil pessoas, e mil coisas. Se um otimista olhasse pela minha janela, veria mil interesses, mil oportunidades e uma paisagem totalmente deslumbrante. Eu, vejo apenas mil coisas sem significado e sem nenhum, interesse, que só passam a me interessar a partir do momento em que entram nesta sala e me tragam trabalho, que gera remuneração, que me gera conforto.
  Não sou assim, fiquei assim. Houve uma época em que cheguei nas ruas desta cidade e achei mil coisas maravilhosas, mil pessoas maravilhosas e deslumbrantes em roupas e com chapéus e óculos totalmente novos para mim. Mil carros e mil coisas para conhecer. Neste dia, achei que precisaria de uma vida toda, e com sorte, conseguiria olhar tudo o que tinha de diferente neste lugar e conhecer todas as coisas diferentes que habitam este lugar.
  Por muito tempo foi assim, eu acreditando que obteria conhecimento todos os dias, infinitamente, e que isso seria a coisa mais maravilhosa do mundo. E por algum tempo assim foi. Conheci lugares, comidas. bebidas, pessoas e gestos. E a cada vez mais, eu me lambuzava e queria mais me lambuzar.
  Mas de repente tudo parou, quando eu comecei a investigar mais fundo sobre tudo e ao mesmo tempo. Minha cabeça não se cansou, mas ela virou-se para o espelho e me vi. Há muito tempo que eu não olhava para um espelho sem a ideia de checar a aparência. Mas por algum motivo ou por simplesmente nada, eu me virei naquele dia de trabalho para o espelho perto da porta de minha casa. 
  Estagnei diante daquilo. Era eu? Aquelas eram minhas roupas agora? Eu sorria assim? Quem realmente era aquele no espelho? Me lembrei da primeira vez em que vim a esta cidade, tão diferente era. Minha aparência era única, era apagada perto de todas aquelas pessoas; meus gestos eram rústicos. Eu era um ser diferente de tudo aquilo que via. Tudo era diferente do que via.
  Mas depois de tanto tempo aqui, conhecendo tanta coisa, hoje eu percebo que todos somos iguais, e o exacerbo de estilo não significa nada mais do que um produto, um produto a qual se dedica muito tempo e algum esforço.
  Neste dia diante do espelho me frustei, porque entendi que quanto mais quisesse conhecer, menos conheceria, porque jamais tentei me conhecer e acreditei que aquilo que eu era seria aquilo que eu poderia e deveria me orgulhar. 
  Hoje, meio tonto de tanta coisa diferente mas sem sentido, passos os dias quentes e horrorosos nesta sala, e quando olho pela janela vejo mil coisas, que de tanta variedade me cansa por não levar em nada que dure uma vida.

domingo, 25 de março de 2012

  Poderia até me revoltar ao ver que tudo ficou bem pra você, sem remorsos, sem dor. Como um cético quando acaba de ler um livro e assim o faz com tanto descaso que nem poderia comentar com alguém sobre o livro lido daqui um dia, pois não haveria comentários.
  Mas,eu não sou falsa e digo, sim, eu senti aquilo, aquele misto de insatisfação, decepção e alívio. Mas o que mais me dói é saber que você não é o primeiro que conheço e que os atos me fazem acreditar não passar mais do que uma máquina. O fato que me leva hoje, agora, neste domingo meio estranho a vir relatar é que, eu não me conformo. Não se é humano encerrar um caso de qualquer modo e tratá-lo com o máximo de descaso, não pensar, excluir sem respeitar, sem lembrar. As pessoas novamente me fazem sofrer ao mostrar que não se importam com quem passa em suas vidas!
  Não é questão de lamber, cheirar e acariciar, mas de respeito! Por quê esta ausência tão nítida de respeito pelos outros? Não ser falso, ser honesto, mas ouvir, respeitar, pensar em como você dirigi sua vida e como você deve conduzi-la quando há mais de um no carro.
  Neste domingo cheio de comida, ainda há fome...
  E ninguém ao menos, ou melhor colocado, muitos não lhe oferecem apenas um minuto em seus pensares pela dor que pode se ter quando não há nada na barriga. Ou até mesmo pensar depois de condenar alguém a uma jaula de opinião, pensar no que o levou ali, respeitar suas escolhas e crenças. Essa dor em mim é por isto, porque você representa a fome do inferno lá fora, um inferno que tanto imaginou e construiu que você mesmo esta lá! 
  Neste domingo saindo as ruas, e topando como pessoas como você, eu sinto a fome de mil infernos juntos escorrendo pelas beiradas dos beiços de toda esta sua gente. Lunáticos condenando sem antes colocar um mínimo de esforço para entender. Porque é mais fácil julgar, é mais fácil chatear, e é mais fácil matar sabendo que a culpa é sua, mas existe um caminho criado por "boas almas" para a humilde redenção.
 
  Num domingo como este, estou triste e meu estômago dói por saber que não é só você, mas milhares de cegos que caminham neste solo propondo um caminho fantástico e a redenção em crenças, mas sem ações para aqueles que estão perdidos.
  Nesse teu lugar, eu ainda saio pelas ruas e vejo a fome de amor e de respeito...

terça-feira, 20 de março de 2012

Terça de Nada

  Acordo, olho pro teto, devo ter olhado se acordei quando estava de barriga pra cima, mesmo que eu não me lembre em algum momento eu devo ter olhado. Comer, arrumar, sair e ir estudar, mesmo que seja por menos de duas horas e já acreditar que isso é muito para não dizer que não faço mais nada da vida. Mas já me acompanha, desde que ponho os pés no chão a procura dos chinelos. O vazio de um dia que será completamente vazio, não importa a convicção, ou o tamanho desejo de se divertir, não haverá nada, e talvez nem mesmo o sono, para que isso abandone minha cabeça e meu corpo.
  Fome, sono, sede. Essas cousas naturais que nós não podemos simplesmente impedir de sentir. Mas e aonde ficam os outros sentimentos e sensações que não nos fazem zumbis? Nada, é isso que sinto quando penso em sentir algo. Nem dor, nem lágrimas, posso até me forçar  alembrar dos fatos recentes para que algo aconteça e me mostre que ainda sou eu e que não desliguei o botão "sentir mais do que sobreviver". 
  Posso até olhar para caras e meninas, mas nada. Beleza e atração nunca foram tão chatas, porque tudo é um saco. Nada me faz sentir, se eu furar a mim mesma, não sentirei mais nada do que dor pela carne, sem horror e pavor pelo sangue que poderia jorrar. Não existe nada para falar, as conversas não tem nem início e por mais que me esforce para dar continuidade ao assunto, algo em mim esta morto, e eu simplesmente concordo ou faço barulhos que me tornam apenas um zumbi.
  Não me sinto bem, e não me sinto mal. Como a folha branca de papel sulfite só que sem nenhuma expectativa do que irá acontecer, como se ela fosse fabricada e soubesse que sua vida será eternamente vazia e branca, e esta fosse a única expectativa dela.
  Indiferente, sem graça. Chata sem gostar de ser, olhar pro corpo e achar que ele é feio, mas que isso não importa porque nada vai valer achá-lo feio se os ossos simplesmente não se reposicionarão e se de fato não é isso que quero. Só que nada me segura por um segundo a mais, simplesmente some, vai embora, e me deixa novamente parada, olhando para um buraco que não transmite nada.
  Sem paranoias, sem fantasias ou histórias, simplesmente morta, prestes a sair fazendo um barulho bizarro e comendo cérebros ou o que se mover.

  Nestes dias em que a gente se sente tão humano quanto o teto em que olhamos em alguma parte da noite. Frios, indiferentes, sem nada para nada.

quinta-feira, 15 de março de 2012

 Uma pessoa vai embora, e ela volta.
 Uma pessoa que vai embora em certas condições dá-me a impressão de que, mesmo voltando, ela ainda esta indo embora. Pode-se dizer "oi" ou por curiosidade ou começo de nada, perguntar como ela vai. Pode-se aludir a opções extremamente perigosas, como tacar-lhes logo o adeus que nunca foi dado e assustar.
 Mas é extremamente difícil e diferente como levantamos uma barreira para nos proteger assim que alguém se vai quando não queríamos que ela se fosse.
 Incrivelmente algumas pessoas mudam seu caráter e seu comportamento o que acaba por me fazer com que o fascínio morra, nada valerá a pena depois que algo como ele morre, não se cutuca os mortos por eles não responderem e não existirem em si, só em outros de um nodo vazio.
 Pode ser esta coisa de idade, que dizem por aí, as pessoas crescem e acabam mudando seu comportamento, aceitam as opiniões universitárias de um pré-adulto bem sucedido. Acabam pro deixar de lado aquelas coisas que nos fazem sentir arrepio e emoção. Como se fosse um adeus antes da maioridade. Sem graça, sem emoção e só com mais exacerbo de "ui, realidade".
 É um misto de pessoas que vão nos decepcionando, porque esperamos que isso de "mudar" não seja verdade, porque depois que se muda se perde aquilo que se tinha porque era inaceitável ou errado.
 Não sei bem o que penso a respeito, é uma típica confusão mental do século vinte e um, onde os jovens crescem para virarem adultos, e os adultos envelhecem sem muito fazer.


 Isso me fascina, a mentira que fazemos questão de aludir porque nos fortalece e nos dá uma boa noite de sono. O fascínio que se apresenta em todas as mudanças que aceitamos ao invés de recorrer a preservação de algum caráter antigo. Me fascina os antigos que mudam, mas ainda podem ser antigos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

  Quanto tempo vamos ficar aqui? Sentados e esperando que o ônibus dos nossos desejos venhas nos pegar? de quanto tempo humano nos falamos?, temos todo este tempo para sentar e ficar esperando algo que queremos demais só que já desacreditamos faz tempo? Os nossos desejos íntimos que tanto fazemos questão de esconder porque o "mundo corre e faz você correr demais", porque desejamos tanto a ponto de não desistir da correria da sobrevivência, ou será que fomos nós mesmo que concebemos o mundo em que vivemos? Talvez nós nos esquecemos dos  nossos desejos porque era mais importante nos mostrar grandes á aqueles mesmos que nos lembrávamos ser. 
  Ninguém enfim pode culpar os outros ou apenas a si mesmo, porque nascemos sem saber que havia um aparada aonde o ônibus dos nossos desejos passava, e que tínhamos o direito de saber e de poder esperar um momento na nossa vida que não fosse para pensar nas contas ou na despesa, ou em como ganhar dinheiro. Já nascemos assim, nossos pais também, os pais deles, e os jovens da Grande Guerra já nasceram assim também, sem direitos de homem e com alguns falos direitos "civis". 
  Poderíamos culpar o primeiro homem? A evolução de um animal por ter tido a maldição de ter o desejo que é forte e massacre os demais, por poder? Não se pode culpar neurônios ou reverter o processo de que somos aquilo que somos, somos os animais e as maravilhas que somos, temos cabeças quadradas, redondas e abertas, mas são as nossas cabeças, ninguém de fato as controla, a não ser nós mesmos.
  O que nos impede de sentar e apreciar a chegada do ônibus dos nossos desejos são nos mesmos, porque somos covardes o bastante para não mexer nos que foi concebido.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

  Já não é mais a parte racional de mim que clama por você, já não são mais os dias que me passam num vazio de cousas, de realidade, não é a ausência de imaginação que só você me proporciona, não é mais a ausência da liberdade que sinto em seus braços que eu choro, é você. Sua ausência, me faz falta.
  Tão apaixonada e fico aqui, como se esperasse você voltar de um compromisso com aquele sorriso grande e lindo, aquele sorriso que você me dá, que é só meu. Ninguém entenderia que saudade é mais do que a ausência física de uma pessoa, é uma loucura que vai carcomendo a alma pelas beiradas evai nos deixando doentes, porque sua alma esta em parte comigo, e ela clama por sua metade que esta longe. Saudade é mais do que a distância, alguns metros ou milhares de quilômetros, mas é ter algo com você clamando a todo momento por parte de sua essência.
  Eu me sinto como se não houvesse mais chão para pisar, e que tudo se foi quando você entrou no ônibus, e como se eu pisasse em algo que mais e mais me puxa para baixo e eu estou sendo forte, eu juro, que estou sendo forte por você. Mas não tenho mais as asas que me fazem voar por minha constante alegria, eu não tenho mais a música que me enche os ouvidos e pula meu coração.
  Eu não tenho nada, até ouvir sua voz perto do meu rosto, e sentir seus lábios novamente me dando o doce de minha alma, de sua alma.
  A saudade é não ter nada até que você volte.

Doutor de mim, que quer matar e sentir contra a obrigação

 Preso a algum hábito que me faz um monótomo ser errante cheio de confidencias já confidenciadas e não guardadas para a beleza do olhar. Roupas e mais roupas, nada que agrade, chapéus e lençóis, travesseiros e uma cama arrumada que nunca sequer ousei desarrumar. Tradições e pensamentos antiquados cheios de um desejo pré-infante que eu jamais ousei deixar que me invadisse a narina.
 O cavaleiro que eu vejo no espelho mais desejado ser um monstro que eu queria ver. Um monstro que eu queria me permitir ser e sentir por alguns minutos para depois me encaixar novamente em meu lugar naquele escritório onde pessoas e pessoas vem me expor seus casos e me olham com jubilo acreditando que eu sou o máximo. Tantas histórias que eu não vivi, tantas aventuras que eu deixei de pensar quando eu me submetia ao acaso do não acaso dos livros históricos e das leis humanas.
 Agora, aqui nesta casa mediana, por muitos invejada, por mim que não me agrada. Agora sim, eu sozinho estou, fico aqui pensando e desbotoando a camisa, na intenção de que eu me sinta melhor ou que apenas me divirta. Sair, beber, ousar, profanar e matar. Todos passando por meu corpo ao mesmo tempo querem me dominar, mas eu sou forte ou pelo menos a educação de minha mãe é.
 Nunca se permitir brincar ou sorrir, "a cooperação pela vida gloriosa que terás", palavras que ecoam sinistramente em minha mente daquela boca dura que jamais sorriu pra mim ou disse me amar, daquela boca que jamais disse que me desejou por algum daqueles nove meses normais, meses de "transição".
 Agora, eu, sozinho, doutor advogado Fonseca, ou o que quer me chamem por aí, estou aqui, bebendo, fumando e esperando que alguma pessoa indecente bata a minha porta para que eu possa me deleitar nas suas ousadias, ousadias que estão aqui trancadas em mim, trancadas por remédios tarjados que minha médica me faz  tomar, que minha mãe me fez jurar sempre tomar. Eu não vivi, porque fui criado para ter uma vida gloriosa. 
 Não culpem a escória, pois saibam que elas talvez não puderam ter emoções e por ordem tiveram seus corpos queimados em gelo para assim sempre ser. Advogado eu que não julgo, só os faço sentir-se justiçados.   Doutor eu, doutor de mim, ah se preciso alguém para que eu possa cortar a jugular e ver jorrar o sangue, um último apelo para que minha alma não me abandone mais.








*primeiro teste de uma personagem fictício!*

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

 Um mundo extremamente rico e pessoas exageradamente pobres.
 Muitas cabeças não pensam por uma só, muitas cabeças pensam por um bolso só. Poucas cabeças pensam pouco, e uma cabeça revolucionária tende a perder tudo por culpa de ausência de incentivo. Muitas cabeças não tem respeito e viram apenas tijolos de uma construção infinita.
 Muitos corpos andam na mesma direção, e algumas vezes não entendo se sabem mesmo para quê estão andando. Muitas pessoas jogam por jogar, passar o tempo, de tão turbulento, o tédio virou inferno, porque ninguém se permite descansar um dia. Trabalhar sim, morrer trabalhando não. Uma cabeça diferente tende a se autodestruir por culpa de outras cabeças iguais, que pensam apenas no mesmo bolso.
 Não é algo revoltante, é cotidiano, mas viver o cotidiano pode ser algo estressante. Perdendo a capacidade de ser único, estamos esquecendo que a vida é mais, e a morte é pouco.
 Sabendo e dançando as pessoas vão fazendo da vida algo disforme e diferente, algo que ninguém quer ver e participar, mas que todos no fundo insistem em ir e dançar junto. A vida é uma questão de tópicos, tópicos a fazer, essa foi a vida que fizeram pra nós, mas não precisamos fazer isso, não precisamos seguir os tópicos, podemos ser mais do que coisas enumeradas, regradas.
 A vida é algo lindo, é algo extremamente lindo, por que então não enxergar? Pode ser um pouco cabuloso sair do normal para entrar no estranho, pode ser bom fazer algo que repugna, pode ser bom experimentar. Mas ninguém quer isso mais, as pessoas estão pensando no dinheiro, e nesse mundo custa ser diferente. Mas as pessoas ainda rotularam a vida como vida, a minha vida não vai ser rotulada porque habito o mesmo espaço.
 Eu sou diferente e vivo de amor.